sexta-feira, 1 de março de 2013

O PAPA RENUNCIA: QUAL O IMPACTO NA IGREJA?


MENSAGEM DO BISPO DOM FRANCISCO BIASIM
O PAPA RENUNCIA: QUAL O IMPACTO NA IGREJA?
FONTE: http://www.diocesevr.com.br/Artigos/Dom%20Francisco%20Biasin/10.html

O gesto de renuncia do Papa Bento XVI foi revolucionário e profético mesmo! E surpreendente na medida em que o Papa era considerado pela mídia de tradicionalista e conservador. Surpreendente também diante de uma Igreja que, não adianta escondê-lo, se encontra em dificuldade diante de um mundo em contínua mudança e indiferente, quando não hostil, ao anúncio do evangelho.

Depois das demissões do Papa, a Igreja não é mais a mesma, nem poderá sê-lo a partir do próximo conclave. O novo papa eleito deverá pensar a Igreja do futuro e aos desafios postos pelo mundo contemporâneo.

Embora o Código de Direito Canônico preveja a possibilidade de demissões, Bento XVI quebrou uma tradição secular. Fez o gesto mais significativo no exercício do seu ministério petrino. Fez uma escolha corajosa que solicita a Igreja a se renovar e a se purificar das incrustações do tempo e dos “pecados” dos seus membros, a partir de seus representantes, em todos os níveis da vida eclesial. A renúncia do papa foi uma sacudida salutar para todo o corpo eclesial e... há quem diga, como que uma chicotada. Foi uma chamada à humildade evangélica, numa lógica de serviço, longe das brigas pelo poder e das ambições de carreira.

Bento XVI não “desceu da cruz” por covardia, mas porque impossibilitado fisicamente a exercer da melhor maneira possível o ministério ao qual ele fora chamado. Continuará a servir igualmente a Igreja com a oração, bem pertinho do túmulo do apóstolo Pedro, escondido para o mundo, dentro dos muros do Vaticano.

Quem vai lhe suceder terá o caminho marcado pelo apelo à unidade e ao testemunho evangélico. Em várias ocasiões e com coragem, o Papa Ratzinger denunciou as muitas “sujeiras” que se aninham na Igreja e que deturpam o seu rosto.

A sofrida decisão de Bento XVI surpreendeu o mundo católico, mas também os outros cristãos e os não crentes. O Papa da profunda reflexão teológica e das palavras ungidas pela presença do Espírito passará à história por este “grande gesto”. Fazemos votos que este gesto, acolhido pela Igreja e pelo seu sucessor, retome o Concílio Vaticano II e o seu espírito mais genuíno, enfraquecido e em parte até esquecido ao longo destes 50 anos que nos separam do seu início.

O novo Papa, mais do que convocar um novo Concílio, será chamado a dar plena atuação ao Vaticano II, concluído formalmente com a última sessão, mas nem sempre recepcionado e aplicado em toda a sua riqueza pastoral e eclesial, devido a resistências ou a retrocessos promovidos por grupos bem definidos dentro da Igreja.

Creio que ele deva enfrentar os grandes desafios de hoje: o secularismo, o relativismo ético e uma séria reflexão sobre as novas fronteiras abertas pela engenharia genética, tendo o suporte de uma efetiva colegialidade dos bispos e de uma plena corresponsabilidade dos leigos, a valorização das Igrejas locais e uma atenta escuta das vozes que provém do mundo, com especial sensibilidade aos pobres, aos jovens e às mulheres. E re-propor ao mundo a Igreja na sua compreensão de “Povo de Deus”, onde a hierarquia esteja a serviço dos fiéis e não o contrário. Tudo isso para que a Igreja readquira credibilidade diante do mundo de hoje.

A atitude exigida de todos nós é a conversão. o Dia 11 de outubro do ano passado, recordando o aniversário do início do Concílio, Bento XVI afirmou: “Provamos que o pecado original existe e se traduz em pecados pessoais que podem se tornar estruturas de pecado, que no campo do Senhor, sempre há joio, que na rede de Pedro encontram-se também peixes maus e que a nau da Igreja está navegando também com o vento contrário, na tempestade. E às vezes pensamos que o Senhor dorme e nos esqueceu.”

Os mesmos conceitos ele retomou e reafirmou na homilia em ocasião do rito das cinzas, quarta feira, dia 13 de fevereiro passado, denunciando o individualismo e as divisões, a “hipocrisia religiosa”, quem “quer aparecer” e quem “procura os aplausos e a aprovação”. “As divisões eclesiais - admoestou o Papa - deturpam a Igreja: é necessário superar as rivalidades”.

Além da surpresa, todos fomos tomados por certa perplexidade diante da renúncia do Papa, mas a sua fragilidade e humildade nos reconciliam com uma Igreja mais evangélica, mas próxima e companheira de caminhada com as mulheres e os homens do nosso tempo para partilhar “alegrias e esperanças”, “tristezas e alegrias”. Agora, por este gesto, Bento XVI entrou em profundidade no coração do povo e ficará para sempre como um grande papa.

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